sexta-feira, 3 de julho de 2009

Zé Renato em Fortaleza


Só quem já foi no clube BNB pode saber como é o local, impossível descrever aquela arquitetura antiga, aqueles lustres da década de 70 empoeirados e esquecidos, mesas dispostas na frente do palco num salão grande com direito a laterais e colunas e colunas atrapalhando a visão do palco.

Fiquei numa mesa lá atrás, longe dos detalhes do palco, mas pelo menos nada de coluna na minha frente. O som que não estava lá essas coisas também não conseguiu atrapalhar a beleza da noite. Enquanto o Marcos Caffé cantava comentei na mesa que merecia um som melhor, mas em compensação a voz precisa do Zé Renato que tudo transforma haveria de transformar aquele som disforme em algo possível e real.

Uma amiga do Recife que estava com a gente na mesa comentou que era muita coincidência descobrir o show do Zé Renato em Fortaleza logo no final de semana que ela estava aqui de passagem, e eu com meus botões pensei quantos anos separavam a noite de ontem com a última vez que o Zé Renato aqui esteve.

Enfim, Zé Renato sobe ao palco e começa a cantar. O som que estava muito ruim com o Marcos Caffé de repente melhora consideravelmente com o timbre suave e preciso do Zé... sem pressa, sem engasgos ele dispara a cantar: "estou amando loucamente a namorandinha de um amigo meu..."

E a noite começa. Suspensão, silêncio e suspiros. A voz, o carisma, a doçura do intérprete, ali no palco, muito bem acompanhado no palco por Castilho e Romulo Gomes, nosso amigo m musical Romulo Gomes!

Entre jovem guarda e grandes sucessos de sua carreira a noite avança, vixe como tem Zé ! É o Zé cantando Zé Ketti e Jackson do Pandeiro. Zé cantando todas as canções possíveis de seu repertório construído com todo cuidado, com muito cuidado por tantos anos e anos, sempre fiel ao seu bom gosto musical, fiel à sua competente verve de compositor.

Tão bonito, tão bonito o moço cantando coração de papel. "Se você pensa que meu coração é de papel, não vá pensando pois não é..."

Não é não Zé, não é. Tanto que a saudade apertou quando você cantou aquele velho e gostoso samba do grande amor... e eu me levantei atrás da tua irmã!

Sim, verdade. Nessa hora fui atrás de memeca pelo clube, entre mesas brancas e salão escuro eu procurava a pequena, a pequena responsável pela produção do show e pelo meu bem querer, mas ela sumiu... Mentira!

Logo hoje que não tenho mais a pedra no meu peito, sou bom sujeito, não carrego mais andor, e acho graça COM o grande amor!

De longe vejo, no compasso do samba buarqueano na voz do Zé que é quase Chico no quesito unanimidade, vou ao encontro dela: memeca! E beijos e abraços apertados como deve ser, como vai sempre ser.

E volto para a minha mesa feliz e feliz e feliz com o abraço da irmã enquanto no palco o Zé já se prepara para mais uma canção de arrebatar o coração, de quem tem coração e para que tem no coração aquela flor preciosa que mora no alto da colina chamada amor.

Pouco a pouco o show avança com o Romulo Gomes fazendo uma bela participação no vocal e o show já quase se anuncia o final... ahhhhhhhh faz o público ávido de mais e mais.

Mas antes disso, bem antes, o ponto alto do show foi sem dúvida quando de repente, não mais que de repente, entre uma e outra jovem guarda, o moço do palco resolve surpreender e cantar uma bem antiga... nas primeiras notas a lembrança real, incrivelmente real do lp da novela Roque Santeiro.

E ele lá cantando tepidamente as minhas recordações musicais: "vê quantas voltas tem que dar o amor... Jogou o laço e se prendeu, o inesperado aconteceu, a vez da caça e a hora do caçador."

Vai ser você! vai ser você!

Nas mesas e corações o arrepio na alma. E um coro emocionado cantando baixinho: "vai ser você!"

Linda letra, linda melodia, linda canção que me acompanhou por anos e anos no lp da novela Roque Santeiro (o segundo), a platéia já rendida e na palma da mão. Daí em diante ele pode cantar até axé ou funk com a platéia completamente domesticada à luz embriagadora da beleza dessa canção.

Fim do show, depois do bis e bis. Ainda em estado de graça e feliz volto pra realidade e pra saudade de bons shows como esse aqui em Fortaleza.

Veleiro