domingo, 25 de julho de 2010

Tu

Quase não tenho fome
longe de ti
é outro tipo de coisa
mas não é fome
nem sede
nem ansiedade
é precisão mesmo.

Tu, o alimento
tu, a água pura
tu, o benfazejo
tu, o chá de erva
tu, meu sexo em riste
tu, meu corpo satisfeito.

Veleiro


Eu nunca me encantei com o palhaço, no entanto, sempre fui tomado de afeição e carinho pelo artista que fazia o personagem do palhaço. Enquanto o malabarista me impressionava, a trapezista me dava calafrios, o palhaço me emocionava.

Não pela caricatura, não pela roupa extravagante, não pela pintura no rosto, não pelos tombos... Mas pelo olhar. Porque eu olhava profundamente no seu olho toda vez que chegava perto. E lá dentro, por trás da máscara de tinta, por trás da careta, eu via um artista de verdade.

Um artista que para fazer a sua arte precisava ter muito mais que habilidades e treinos (como era o caso do malabarista e da trapezista), precisava ter alma de artista, precisava mergulhar na vivência humana, buscar a infância perdida daqueles olhares cúmplices da platéia.

Para mim o palhaço era o verdadeiro mágico, seus tombos falsos, seus risos de ocasião, a gargalhada da platéia... Tudo aquilo fazia parte daquele menino que eu via lá dentro dos seus olhos e era esse menino que me hipnotizava, era com esse menino residente nos seus olhos que eu conversava.

Muitas vezes em silêncio, calado, que é meu jeito de conversar com as pessoas que me emocionam. Então, para mim tanto importava como ele estava vestido ou como seu rosto estava pintado. Eu queria ver aquele menino escondido nos olhos do palhaço. E rir dele e rir com ele.

Veleiro