sábado, 14 de agosto de 2010

Sobre o amor-feliz e outros quases...

Alguém já disse que a felicidade nos preenche de tal forma que não temos tempo para os versos. Sempre pensei que isso fosse pura balela, mas não é.

Um bom verso carece de uma dose de sofrer, mas não é sofrimento no sentido ruim da palavra, senão todos os morimbundos dos hospitais do mundo seriam grandes poetas e estariam nesse momento escrevendo suas odes...

Eu acho é que a felicidade anestesia um pouco aquela angustiazinha disfarçada de melancolia, aquele bichinho matreiro que nos corrói por dentro.

É que a vivência do amor-feliz nos toma tempo e quase nunca ficamos verdadeiramente sozinhos. Não digo que o sujeito simplesmente deixa de escrever, não deixa, não deixa. Mas quando escreve não mostra nem por um decreto!

É que o amor-feliz é muito constrangedor quando vestido em palavras.

Vinícius, o poeta que mais amou na vida, criava as mais loucas situações para se colocar em estado de amor-saudade, amor-veneração, amor-distante, amor-impossível, amor-dedicação. .. Mesmo quando o seu amor era presente, real, possível.

De tanto não saber lidar com o amor-feliz casou e se separou quase dez vezes. Não era o amor que acabava, era a felicidade que chegava e ele não sabia lidar com ela.

Ser feliz é muito difícil. Muito, muito mesmo. É muito mais fácil carregar o fardo do mundo nas costas, os pesares e os dissabores da alma pendurados no peito feito honraria.

E eu adoro uma melancoliazinha de beira de fogão, uma tristezinha vespertina, e até tenho saudade delas, mas hoje não consigo arranjar tempo para recebê-las. O amor-feliz veio me visitar e ficou por aqui.

Mas o verso, o verso mesmo... aquele que a gente arrisca a mostrar, só tenho feito muito de vez em quando. É que sou muito linear, não tenho montanha russa na alma, essa minha alma de ariano que precisa ter as quatro patas no chão. E vou repetir uma coisa que só um ariano pode entender: "como dói ser ariano."

Ando lendo coisas do budismo para controlar um dos meus vícios mentais: a raiva. Não parece, mas eu sou um vulcão, quase à beira da erupção. Mas como convém aos loucos, quase ninguém percebe. Por isso que sou vidrado nessa palavra tão significativa da língua portuguesa: quase.

:-)

5 comentários:

@AdrianaSM disse...

Meus momentos felizes são raros, mas intensos, verdadeiros. Sinto-me feliz quando entro em contato comigo, em uma solitude que me permite sentir a inteireza do meu ser; quando sou inteira com o outro, às vezes simplesmente ao olhar nos olhos, ao abraçar, ao tocar o outro com verdade. Sofro por que as relações estão cada vez mais superficiais, mascaradas de felicidades falsas. Me sinto deslocada, fora de época, então me entristeço.

Léo Nogueira disse...

Cara, me lembre de voltar a esse texto. Tem umas coisas nele que dão música. Me aguarde!

Abraços,
Léo.

Veleiro disse...

Adriana, a vida não é sofrimento, embora muitos insistam nessa ideia. Mas não é. Acredite. As relações superficiais e os abraços de ocasião existem sim, e são importantes, diria até necessários.

É preciso apenas fazer o que eu senti que você já faz. Ter consciência no momento do abraço do que ele representa, sobretudo para você. O abraçado pode nem saber, e nem precisa, mas a gente que abraça sabe, sabe exatamente o que significou aqueles segundos de abraço. E isso já basta.

Seu abraço verdadeiro, sincero e intenso faz o mundo ser melhor. Acredite. E não desanime se muitos não o compreendem ou não sabem retribuir. O universo sabe. Você sabe. E agora... eu, mesmo sem te conhecer, sei.

Léo, você está ficando velho. Vive agora dizendo: ah, me lembre mais tarde disso... :-)

bjos.

AdrianaSM disse...

Sou feliz simplesmente por me permitir sentir, dor ou prazer, não importa!
Valeu! Abraço afetuoso :)

Paulinha disse...

É verdade.Como dói ser ariano....