sábado, 4 de setembro de 2010

A tal da leitura obrigatória...


Acho a frase ‘leitura obrigatória’ um conceito falso. A leitura não deve ser obrigatória. Devemos falar de prazer obrigatório? Por quê? O prazer não é obrigatório, o prazer é algo buscado. Felicidade obrigatória!

A felicidade, nós também buscamos. Fui professor de literatura inglesa por vinte anos na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires e sempre aconselhei a meus alunos: se um livro os aborrece, larguem-no; não o leiam porque é famoso, não leiam um livro porque é moderno, não leiam um livro porque é antigo.

Se um livro for maçante para vocês, larguem-no; mesmo que esse livro seja o Paraíso perdido -- para mim não é maçante -- ou o Quixote -- que para mim também não é maçante. Mas se há um livro maçante para vocês, não o leiam: esse livro não foi escrito para vocês.

A leitura deve ser uma das formas da felicidade, de modo que eu aconselharia a esses possíveis leitores do meu testamento -- que não penso escrever --, eu lhes aconselharia que lessem muito, que não se deixassem assustar pela reputação dos autores, que continuassem buscando uma felicidade pessoal, um gozo pessoal.

É o único modo de ler.

Jorge Luís Borges

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