quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Um cafezinho com Adélia


Hoje fui atropelado por esse poema. Um amigo, dos bons, e daqueles que a gente demora anos para encontrar ao vivo por conta dessas coisas do mundo virtual me mostrou.

Certamente nos livros que aqui tenho da Adélia não consta esse poema, ou será que nunca tinha lido antes com olhos de hoje? Enfim, atropelado que estou já não sei, só sei que vale a pena ler e reler cada sílaba:


Quando fui ferida,
por Deus, pelo Diabo, ou por mim mesma,
- ainda não sei -
percebi que não morrera, após três dias,
ao rever pardais
e moitinhas de trevo.
Quando era jovem,
só estes passarinhos,
estas folhinhas bastavam
para eu cantar louvores,
dedicar óperas ao Rei.
Mas um cachorro batido
demora um pouco a latir,
a festejar seu dono
- ele, um bicho que não é gente -
tanto mais eu que posso perguntar
Por que razão me bates?
Por isso, apesar dos pardais e das reviçosas folhinhas
uma tênue sombra ainda cobre meu espírito.
Quem me feriu perdoe-me.

(Adélia Prado)

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